A Visão do Cavalo

O tamanho do olho do cavalo é de 5 x 6,5 cm, um dos maiores entre os mamíferos existentes, o que indica que ele depende basicamente da visão para obter informações sobre o ambiente em que vive. Nenhum outro mamífero tem um olho tão grande proporcionalmente e, colocados um em cada lado da cabeça, lhe permite uma visão independente para cada olho, isto é, pode olhar em diferentes direções ao mesmo tempo.
Os raios de luz têm de ultrapassar uma série de obstáculos até chegar às células fotorreceptoras, a córnea é o primeiro, ela desvia estes raios para dentro devido à sua superfície curva. Logo depois se tem o humor aquoso, entre a córnea e o cristalino. Ao passar pelo cristalino, são desviados para que dirijam os raios paralelos que entram no olho a um ponto denominado ponto focal. Após o cristalino fica o humor vítreo que ajuda a manter a forma do globo ocular.
Eles têm um campo de visão total maior que o do homem, porém sua percepção de profundidade é menor. No plano horizontal podem ver quase 360 graus, sendo exceção um ponto cego de cerca de cinco graus atrás deles que coincide com o local onde o cavaleiro senta. Essa área pode ser vista quando o cavalo quando ele levanta ou vira a cabeça. Esse amplo campo de visão é vantajoso para uma possível vítima porque assim pode observar qualquer coisa anormal no ambiente, como um predador se aproximando, como também permanecer atento ao restante do rebanho.
Cada olho pode ter um campo de visão de até 215 graus, em um plano paralelo aos cantos dos olhos, porém 190 a 195 graus é mais plausível. Há um certo grau de superposição nesses campos, podendo o cérebro, receber duas imagens de uma mesma área, ou seja, visão binocular. E é também a única área onde o cavalo tem realmente uma visão em 3D e, portanto, capacidade para avaliar as distâncias corretamente.
Ela representa um ângulo de 70 graus, onde a maior parte encontra-se a frente do cavalo frente, o campo de visão monocular, aquela que é coberta por apenas um olho, é de cerca de 290 graus no total, ou 140 a 145 graus de cada lado.
A visão binocular fica restrita à frente, quando foca um objeto localizado exatamente à sua frente e que lhe exige atenção (este movimento dos olhos é acompanhado pelo das orelhas que ficam em posição de alerta à frente). Isto faz com que, neste momento, não tenha mais a visão do cavalo, que jamais deve ser feita por trás, e caso isso seja necessário, deve-se ter o cuidado de chamar sua atenção para que ele não reaja instintivamente e se torne agressivo ou tenha a reação de fuga.
No plano vertical, cada olho tem um campo de visão de 180 graus. O grande campo de visão do cavalo é conseqüência e do posicionamento dos globos oculares. Localizados lateralmente eles têm um amplo campo de visão, mas à custa de um campo binocular menor. O formato perfeitamente esférico do globo e o seu revestimento integral por uma retina sensível permitem uma acurada visão periférica. Existem dois pontos cegos importantes, um diretamente atrás do cavalo e consiste na área bloqueada pela largura da cabeça e possui um ângulo de cerca de 5 graus e o outro esta diretamente debaixo do seu nariz, em relação ao plano vertical. Qualquer coisa surgindo do ponto cego pode assustar um cavalo, portanto quando for necessário passar por detrás dele, é mais segura manter uma das mãos sobre ele não dando motivos para que ele se assuste.
            A altura em que o cavalo mantém a cabeça modifica seu foco de visão. Ocorre uma modificação da localização de incidência dos raios luminosos na retina o que lhe permite focar objetos longe e perto apenas com o movimento da cabeça e ao mesmo tempo, o que era uma vantagem no estado selvagem, pois lhe permitia continuar a pastar e se manter alerta o mesmo tempo.
Entretanto, há uma pequena área, de cerca de 1,20, de proximidade que o cavalo, quando a galope ou mesmo a trote, dependendo da altura que mantiver sua cabeça, tem dificuldade de enxergar. Isso faz com que, quando se aproxima muito rapidamente de algum obstáculo, possa se assustar ao chegar muito próximo dele, por não o enxergar. Em competições de salto, é então interessante que não se pressione demais a posição da cabeça do cavalo para que ele possa, por si mesmo, coloca-la da melhor forma possível para que enxergue o obstáculo e não refugue quando se aproximar deste.
Os cavalos enxergam com intensidade de luz mais fraca que os humanos. Ele usa melhor a luz disponível o que acaba por capacitá-lo a enxergar melhor à meia luz que os humanos, deixando-os mais sensíveis ao ofuscamento. Isso explica o porque da dificuldade de cavalos selvagens atravessarem áreas com contraste de luz e sombra. São mais ativos na aurora e no crepúsculo. A maior parte da luz que penetra no olho do cavalo vem do alto, mas como ele praticamente não tem inimigos voadores, não tem necessidade de saber o que se passa acima de sua cabeça. A eficiência do olho aumenta se a luminosidade for obstruída. Alguns elementos que ajudam o cavalo a enxergar com baixo nível de luminosidade:

  • Sensibilidade do pigmento das células fotossensíveis;
  • O tamanho relativamente grande do olho;
  • Os cílios agem como protetor solar;
  • Dentro do olho, encontram-se estruturas aderidas a borda superior da pupila (corpora nigra) que, acredita-se que atuam como uma cortina de tela protetora dentro do olho;
  • A forma da pupila, mais larga que alta, o que diminui a quantidade de luz que entra no olho que vem de baixo ou de cima, mantendo o campo visual.

Porém, a acuidade visual (grau que os detalhes e contrastes de cores são captados) do cavalo é menor que a do homem, estendida ao longo do eixo horizontal do olho existe uma região estreita na retina chamada de “faixa visual” que tem uma densidade particularmente alta de fotorreceptores, porem acima e abaixo dessa faixa a densidade cai o que torna a acuidade menor, os objetos focalizados nessa área não são vistos nitidamente.
Imagens com alta definição dependem de foco nítido, portanto dependem do cristalino, que é flexível, e da força dos músculos ciliares que alteram sua forma. As contrações musculares achatam o cristalino que desvia menos a luz que entra, fazendo com que o animal focalize objetos mais distantes. O cristalino fica mais arredondado para objetos próximos de modo que os raios de luz sejam mais desviados. O sistema do cristalino do cavalo não tem grande flexibilidade e tende a se fixar no foco a longa distância, tornando difícil focalizar objetos a curta distância. Porém, são animais capazes de reconhecer padrões complexos e diferentes rostos. Eles tendem a levantar a cabeça para ver objetos a curta distância, principalmente se estiverem assustados, isso para tentar focar o objeto dentro do seu campo visual e enxergá-lo com maior nitidez.
            São animais que possuem visão de longo alcance, ou seja, o olho do cavalo fica normalmente focado em objetos mais distantes, um traço adaptado, já que em campo aberto esta mais preocupado em discernir se objetos distantes são de fato predadores.
            Os cavalos enxergam cores, mas não tão bem como o homem, eles possuem apenas dois dos três pigmentos visuais necessários para enxergar todas as cores, isto é, sua visão é dicromática.
            São altamente sensíveis a qualquer movimento na periferia do seu campo visual, reagindo prontamente quando algo chega muito perto ou se move bruscamente, sendo sua sensibilidade ao movimento muito alta. Movimentos súbitos ou acentuados podem alertar ou causar ansiedade, até mesmo com uma pessoa familiar, isto pode ser utilizado para ensinar o cavalo a focar sua atenção na direção do tratador, um dos princípios básicos da técnica join up.
            De acordo com Paula da Silva, os cavalos têm ainda uma peculiaridade no seu olho esquerdo, “É comum ouvir pessoas, com uma larga vivência com cavalos, afirmar que o lado direito do animal não parece aperceber-se das ações do lado esquerdo.”Os cientistas que estudam o comportamento eqüino chegam a afirmar que a seção esquerda do cérebro não comunica com a do lado direito. Um dos trajetos mais diretos para a mente do cavalo é através dos seus olhos. Para se entender o comportamento eqüino é fundamental compreender como funciona a sua visão, uma vez que as dificuldades que surgirem relacionadas com a sua disponibilidade, podem estar diretamente relacionadas com a forma como vê as coisas ao seu redor. Os olhos do cavalo focam independentemente um do outro. Cada olho abrange uma imagem diferente e, só com um esforço concentrado e focando algo à frente e de uma certa distância é que ele consegue focar ambos os olhos no mesmo ponto. A tendência é permanecer na visão monocular e, então dar mais atenção à imagem que um dos olhos proporciona, até que no outro alguma coisa a faça desviar-se. Quando nascem dão igual importância a qualquer imagem que lhes chame a atenção. Mas, após um curto período de associação com o ser humano tornam-se esquerdos, mesmo a nível visual. A tradição, religiosamente seguida, de se tratar, aparelhar e montar do lado esquerdo provoca nos cavalos a tendência de darem mais atenção a tudo que se passa desse lado, incluindo a preponderância de focalização com o olho esquerdo. As reações resultantes desta antiga tradição têm muito a ver com o seu comportamento. Tudo começa quando se dão os primeiros passos na educação do potro muito jovem, na altura em que é colocado o primeiro cabeção, que é imediatamente colocado, ajustado e apertado do lado esquerdo; seguidamente aprende a andar à mão com o treinador do seu lado esquerdo. Tal como os cavalos, o ser humano firma-se rapidamente em hábitos, tendo a tendência de começar sempre a operação de limpeza pelo lado esquerdo dedicando, sem perceber, muito mais tempo escovando o lado esquerdo do que o direito. Distribuem-se os alimentos do lado esquerdo, ajustam-se e apertam-se os arreios do lado esquerdo, monta-se do lado esquerdo. Com toda esta atividade do lado esquerdo, o cavalo acomoda-se a observar o mundo através do seu olho esquerdo - a dar sempre prioridade ao seu olho esquerdo. Quando são trabalhados com a guia pela primeira vez é habitual trabalharem bem para a esquerda por lhes ser muito mais cômodo visualizar a pessoa que está no centro do círculo com o olho esquerdo. Ao ser amarrado a uma argola numa parede é comum o cavalo colocar-se paralelo a essa parede, com o olho esquerdo para fora, de maneira a poder visualizar o que o rodeia. Quando em passeio um cavalo passa por um objeto desconhecido, imóvel, do lado direito, é provável que nem dê conta. No entanto, se der a volta e passar pelo mesmo objeto, mas desta vez a ser visto pelo olho esquerdo, o mais natural é que o cavalo repare. O objeto não se alterou nem se moveu, o cavalo é que só reparou quando o visualizou com o olho esquerdo. Quando alguma coisa prende a atenção de um cavalo e ele repara, a sua reação pode ser determinada pelo lado em que o objeto que o assusta se encontra. Se o susto vier do lado direito é normal que ele gire de forma a que o objeto que o assusta fique do seu lado esquerdo para que ele possa observá-lo mais comodamente. Se pelo contrário, o motivo do susto vier do lado esquerdo, é mais provável que dê um salto para o lado para se afastar, em vez de girar. É muito comum o treinador perceber que um cavalo tem preferência em trabalhar para a esquerda. Ao fazê-lo, o cavalo abstrai-se do que se passa do seu lado direito, concentrando-se sobre o que se passa no interior do espaço em que trabalha. Esta situação também se verifica em competição - o cavalo só fixa as imagens captadas pelo olho direito quando, por qualquer motivo, surgir grande movimento ou ruído no exterior da pista. Quando isso acontece tenta girar de forma a que o seu olho esquerdo fique voltado para o exterior, onde se verifica o movimento ou ruído, se por qualquer motivo não puder girar, pára, recua e tenta afastar-se do que o assusta. A parte triste desta história é que os cavaleiros assumem que o cavalo está cometendo uma desobediência uma vez que já passou no mesmo lugar sem qualquer tipo de reação, sendo então castigado por ter se assustado o que vem confirmar que tinha uma boa razão para isto. Um treinador competente deve ter o cuidado de educar o jovem cavalo de forma a que ele possa ser igual para ambos os lados. Deve andar à mão corretamente de qualquer dos lados, a alimentação deve ser distribuída de ambos os lados, como também ser montado de ambos os lados. Ao tentar reeducar um cavalo ‘esquerdo’ nunca deve-se esquecer que isso requer tanta ou mais paciência, persistência e calma quanto persuadir uma pessoa ‘esquerda’ a escrever com a mão direita.

Referências Bibliográficas

MILLS, D. S., NANKERVIS, K. J.Comportamento Eqüino: princípios e práticas: [tradução Washington Fogli da Silveira] – São Paulo : Rocca, 2005

ROBERTS, Monty.O Homem que ouve cavalos; tradução de Fausto Wolff; revisão técnica, Laura Rosetti Barreto Ribeiro. - 3a ed – RJ; Bertrand Brasil, 2002.

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