Acidente de Cavalo

> Colunistas > Dra. Adriana Busato > Acidentes podem ser evitados Já com algum tempo de experiência como veterinária posso dizer com absoluta certeza: 90% dos cavalos estabulados morrem de duas causas: cólicas e acidentes. Englobando os outros 10% estão todas as outras causas possíveis, inclusive raio na cabeça! Dentro desses 90%, 60% são acidentes e o resto é cólica, que não deixa de ser outro tipo de erro de manejo. Então, a maior possibilidade de perda de animais é por acidente? Sim, com certeza. E ai você se pergunta: mas como, se eu dou do bom e do melhor para o meu cavalo? A partir do momento em que retiramos um animal de presa e fuga como o cavalo de seu habitat natural e o colocamos entre 4 paredes ou entre cercas, estamos fadados a ter todo tipo de acidentes por tentar mudar a natureza do animal. Lembre-se de que o que você considera bom para seu cavalo e para você podem não ter a mesma interpretação pelo próprio cavalo, e que cavalos jovens são mais espirituosos e assustados, sendo portanto muito mais propensos a causarem acidentes. Já que não temos como fugir da situação de estabulagem nas grandes cidades, vamos tentar evitar ao máximo a ocorrência dos problemas mais comuns. Basta um pouquinho de bom senso, ordem e atenção. Vigilância Constante Ao entrar na ala de cocheiras, observe se tudo está no lugar, se não há nada ocluindo as passagens dos corredores ou coisas jogadas pelo chão que possam ser pisadas ou enroscadas nos pés dos cavalos. É apenas uma questão de prática de observação, que pode salvar um cavalo que escape de uma baia e saia em disparada pelo corredor. Esteja Preparado Às vezes, mesmo com todos os cuidados, acidentes acontecem e essa não é a melhor hora para tentar descobrir, em pleno Domingo à noite, o telefone do amigo do primo do dono do caminhão de transporte. Se organize. Tenha com você e à mão da pessoa que está cuidando de seus animais telefones de pelo menos 3 veterinários de sua confiança, de vários donos de caminhão de transporte e de farmácias 24 horas da região. Mantenha um kit de primeiros socorros em local que os atendentes tenham acesso. Um passeio pela cocheira visando segurança Entrada: se seu bloco de cocheiras possui portão de entrada, preste atenção se os vasos decorativos não bloqueiam a passagem e se não estão plantadas nele espécies tóxicas. (Muitas flores ornamentais comuns são bastante tóxicas para cavalos, como azaléia, lírios, bico de papagaio, lantana, samambaias e alguns tipos de cedros) Os portões devem ser bem largos e altos suficientes para que você possa passar montado no cavalo. Corredores: em locais com corredores internos, estes devem ser altos o suficiente para que mesmo um cavalo empinando não atinja nada, os pisos não devem ser de material escorregadio e devem prover tração para os cascos mesmo molhados. Se o piso for escorregadio, jamais passe montado no cavalo por essa área. As paredes ao longo dos corredores devem estar livres, sem itens protundindo para o corredor como caixas de material, carrinhos de sepilho e esterco, cavaletes de selas, ganchos de material. Separe um espaço fora do caminho para serem guardados garfos de esterco, vassouras, peneiras e baldes. Capas, ligas e cabos devem ser pendurados ou guardados assim que retirados dos cavalos, uma vez que no chão podem se enroscar facilmente nos cascos dos cavalos. As lâmpadas devem ser fixadas altas o suficiente para não serem alcançadas. Argolas: amarrar um cavalo também tem seus riscos. Algumas pessoas gostam de usar cabos elásticos que esticam, entretanto, esse tipo de cabo quando finalmente arrebenta pode acertar o olho do cavalo violentamente. Os cabos mais indicados são os de corda naval com mosquetões de pânico ou com nós do tipo "puxou-soltou" que permitem livrar rapidamente um cavalo em pânico. Boxes: as portas têm de ser largas e altas o suficiente para um cavalo passar através delas com segurança. Quinas agudas devem ser evitadas a todo custo. Uma pancada na anca ao sair da baia pode ocasionar um afundamento ou fratura, portanto quando colocar e tirar um cavalo da baia, lembre-se de guiá-lo em linha reta até que todo o seu corpo tenha passado pela porta. A drenagem do piso deve ser eficiente e a cama utilizada deve ser de qualidade e revisada diariamente para evitar problemas nos cascos e pneumonias. Os novos pisos emborrachados são extremamente eficientes, apesar de caros. Entre na baia e feche a porta. Observe se existe algum espaço que potencialmente possa prender a pata de seu cavalo entre a porta e o piso ou entre o protetor que é colocado na saída da baia para que a cama não saia para fora. É muito comum que durante a noite os cavalos deitem, rolem e prendam uma pata nestes espaços. Em baias de madeira, observe se o espaço entre as ripas permite que uma pata possa passar entre elas. Um dos maiores causadores de problemas são os ganchos e travas que prendem as portas superiores abertas. Muitas vezes os cavalos conseguem a façanha de prenderem o cabresto nesses ganchos e acabam se enforcando. Use travas "fracas" que quebrem facilmente se forçadas ou sistemas que prendam a porta por trás dela. Mangedouras e baldes: hoje em dia totalmente contra-indicadas por duas razões: primeira que o cavalo foi feito para pastar ao nível do solo, alongando a musculatura de seu pescoço. Uma mangedoura alta cheia de feno vai contra a maneira natural do animal se alimentar. Segundo, que quando o cavalo morde e puxa o feno, é liberada uma grande quantidade de poeira nos olhos e narinas do animal, levando a problemas potenciais. Sirva o feno no chão ou em sacolas próprias amarradas baixas. Baldes devem ser utilizados presos na parede, em altura que não permita que o cavalo ponha uma pata dentro dele. Duchas: quase todos os cuidados acima se aplicam às duchas, com o agravante de que o piso estará molhado. Potes, xampus, rasqueadeiras, etc. jamais devem ficar no chão onde o cavalo possa pisar e se assustar. Cuidado extra deve ser tomado com as mangueiras, que podem se enrolar na pata de um cavalo mais nervoso dentro da ducha. Piquetes: observação diária das cercas por um responsável é imprescindível em um haras. Fios de arame soltos e ripas quebradas podem inutilizar um animal. Retire galhos caídos e raízes altas de dentro do piquete. Cavalos se machucam nos locais mais improváveis. Cuidado com comedouros de fibra, que se quebram facilmente em lascas cortantes. Retire sacos plásticos ou de ração dos piquetes. Estes por vezes são carregados pelo vento e podem ser ingeridos por potros curiosos. Limpeza conta: quanto mais limpo, melhor. Pouco lixo envolta das cocheiras significa poucos causadores potenciais de acidentes e menos coisas em seu caminho quando eles acontecerem. Um simples papel no chão pode voar na cara ou entre as patas de um cavalo, levando-o ao pânico. Cultive bons hábitos de trabalho. Guarde todo o equipamento - de cabrestos e capas até garfos de esterco - em seus lugares assim que terminar de utiliza-los. O medo de um possível acidente não é necessariamente seu inimigo. Uma dose saudável de imaginação combinada com um toque de antecipação melhorará seu manejo com os animais e irá ajudá-lo a prevenir acidentes. Dra. Adriana Busato é: Médica Veterinária formada pela UFPr;Mestrado e Pós Graduação em Clínica Cirúrgica UFPR;Especialização em Reprodução Equina c/ Prof. Dr. Romildo Weiss UFPR;Professora Adjunta de Equídeocultura, Fisiologia Animal,Fisiologia Equina, Etmologia e Evolução Equinas, Desportes Equestres, Conformação e Julgamento do Equino do Setor Ciências Agrárias PUC-PR;Diretora Adjunta do Curso Superior Seqüencial de Ciências Eqüinas da PUC-PR;Inspetora e Diretora do Núcleo do Paraná da ABCCH;Juíza Nacional da ABCCH;Veterinária Oficial da CBH;Amazona amadora reconhecida, com títulos em âmbito Estadual e Nacional em Salto e Adestramento;Apresentadora de programas sobre o Brasileiro de Hipismo no Canal Rural;Profere palestras sobre manejo e criação em vários estabelecimentos de Ensino, Associações de Criadores, Regimentos Eqüestres do Exército e Clubes Hípicos;Escreve artigos sobre criação, reprodução e manejo para várias publicações nacionais especializadas em equinos como: Revista Horse, Notícias a Galope e Placê. Dá auxílio técnico na importação de sêmen e escolha de linhagens para vários Haras Nacionais de Brasileiro Hipismo.

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