AS MÚLTIPLAS FORMAS DO TEMPERAMENTO – O diferencial que pode fazer um Campeão

O temperamento é sinonimo de indole, sendo o reflexo das atitudes de comportamento. O bom temperamento era praticamente nato na raça Mangalarga Marchador A exceção eram os animais oriundos de linhagem que utilizou sangue Árabe. Atualmente, as exceções são poucas, pois o uso quase que generalizado do sangue Mangalarga introduziu na composição genética da raça Mangalarga Marchador os genes do temperamento inquieto, oriundos de raças exóticas que influenciaram algumas fases da fixação de caracterisitcas da raça Mangalarga. O temperamento inquieto, não necessariamente, é classificado como sendo de má índole.
Raramente, esta importante caracterísitca tem sofrido pressão de seleção. A dificuldade de selecionar o temperamento é porque tem base genética parcial, pois é muito afetado pelo manejo. Dependendo das experiências do passado, muitos potros e potras tornam-se cavalos e éguas de má índole. Infelizmente, a prática da violência ainda é prevalente no manejo de muitos haras. Em contrapartida, é possível que potros e potras que herdaram temperamento inquieto, ou simplesmente imitaram atitudes de mal comportamento de suas mães, durante o período de amamentação, tornem-se cavalos e éguas de boa índole, através do treinamento adequado.
Outras situações que podem afetar o temperamento têm base fisiológica. Por exemplo, as deficiências de visão deixam o cavalo inquieto, nervoso; os olhos pequenos limitam o campo da visão; um ferimento na boca, pela ação violenta da embocadura, pode alterar o temperamento; um ferimento nas orelhas, pelo uso incorreto da tesoura, ou tosquiadeira, na aparação de pêlos, torna o animal medroso diante da aproximação do treinador; o casqueamento ou ferrageamento incorretos, provocando dor, são situações ruíns, que serão lembradas, dificultanto este tipo de manejo especializado. Vários outros exemplos poderiam ser citados.
Há também as situações de origem psicológica. A mais típica é o estado de excitação, que se manifesta quando o animal tem reservas de energias ( por exemplo, quando sai da baia ) ou quando está em algum ambiente novo. As reações características do estado de excitação são: cabeça elevada, narinas abertas e flexíveis, às vezes bufando, orelhas móveis, o olhar brilha, cauda erguida em forma de arco, membros elevados, com extrema flexão. A alegria é reação emotiva que pode ser confundida com excitação. O medo e a curiosidade são outras reações emotivas que também podem afetar o temperamento.
Contudo, a situação que mais afeta o temperamento é o confinamento. As reações de inquietude são variadas: andar de um lado a outro; morder cochos, janelas e portas; morder pessoas; raspar os cascos no piso, provocando desbalanceamento médio-lateral ou ântero-posterior; escoicear; manotear; coprofagia; aerofagia; geofagia. Geralmente, bastará soltar o animal em um piquete amplo, durante meio período ( dia ou noite ) para o comportamento normalizar.
A má índole é o grau máximo do mal temperamento, ou temperamento nervoso, caracterizando-se pelos atos de morder e escoicear, associados à inquietude permanente. O grau intermediário do mal temperamento é apenas a inquietude, que pode ser caracterizada, por exemplo, pelo ato de negar cabresto - difícil de pegar no cabresto ); negar estribo - difícil de montar; “sapatear” – raspar ou bater cascos anteriores no solo quando parado; “passo travado” - difícil de relaxar ao passo, exigindo controle permanente de rédeas;
Uma terminologia da moda é “temperamento de sela”. Quando o cavalo é ativo, brioso, disposição expontânea para marchar, de respostas prontas aos comandos da equitação, tem bom “temperamento de sela”. Este é o diferencial que pode fazer um campeão. Geralmente, cavalos briosos são cavalos corajosos, de muita resistencia, que não se entregam facilmente. O oposto do cavalo de bom “temperamento de sela” é o cavalo linfático, sem calor, de “costados frios”, exigindo ação forte e contínua dos comandos principais e auxiliares da equitação. Cavalos linfáticos geralmente não são possuidores de boa treinabilidade. A performance tende a ser medíocre.
O bom temperamento deve ser qualidade muito apreciada no processo seletivo do cavalo Mangalarga Marchador, cuja função principal é em passeios e cavalgadas. Portanto, é montado por um considerável número de pessoas não portadoras de habilidades na equitação, que precisam de animais de bom temperamento e de boa comodidade. A pressão de seleção deve aumentar. No manejo, através do condicionamento mental, os treinadores precisam focar o temperamento que facilite o adestramento e o treinamento para competições. O bom convívio entre tratadores, treinadores e cavalos somente é possível através do bom temperamento mútuo. A amizade é aliada imprescindível do bom temperamento.
Lúcio Sérgio de Andrade – Escritor, autor de quase 30 livros, produtor de DVD’s educativos sobre vários temas da história e manejo, pesquisador, consultor de haras, instrutor de cursos de formação e aperfeiçoamento. Obra disponível no portal www.mundoequino.com.br

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Alimentação de Eqüinos – Quantidades e Manutenção

Aprumos

Dom Roxão, Cavalo bom de gado.