A ORIGEM DA MARCHA PICADA NO MUNDO E NO BRASIL
A
teoria mais provavel da origem da marcha picada no mundo é a de que
tenha surgido a partir de mutações genéticas sofridas pelos cavalos
Bérberes nos desertos do norte da África. Estas mutações resultaram na
Andadura, como forma de adaptação à dificil locomoção nas dunas de
areia fofa.
O melhor
exemplo é o andamento dos camelos, a andadura exclusiva, andamento
rasteiro, com apoio quadrupedal entre as trocas de apoios sincronizados
dos pares laterais de cascos. Neste tipo de movimentação os cascos
praticamente arrastam-se na areia fofa. Ao contrario, no trote, os
pares diagonais de de cascos afundam-se para, em seguida, os quatro
cascos elevarem-se no momento de suspensão, necessario às trocas de
apoios duplos diagonais. Obviamente, no trote na areia fofa a
progressão do andamento é menor, e o desgaste fisico é maior.
O rebanho
brasileiro de éguas nacionais formado pelos colonizadores portugueses
era, predominantemente, de sangue Bérbere, Sorraia e Garrano. A raça
Bérbere foi formada nos desertos do norte da Africa, tendo sido
montarias famosas nas guerras. Há registros históricos, em figuras, de
cavalos Bérberes em movimentação caracterizando a andadura classica e
desunida (quando ha uma discrete dissociação entre os pares de membros
laterais).
A partir dos
cruzamentos aleatórios entre garanhões trotadores de origem nas raça
Altér Real (sangue Andaluz/Luzitano) e éguas de andadura da raça
Bérbere, a marcha picada começou a ser produzida. Como o trote é
geneticamente dominante em relação à andadura, a escala de produção de
animais de marcha picada era bem inferior à produção de animais de
marcha batida.
Naquela época
não haviam estudos determinantes da qualidade dos andamentos, ou seja,
qualquer tipo de dissociação lateral era aceita. Atualmente, a marcha
picada de qualidade é que chamo de “marcha picada de centro”, ou seja,
quando ha um bom equilibrio entre os tempos de apoios duplos laterais e
duplos diagonais.
Os registros
históricos da raça Mangalarga Marchador relatam que a marcha picada
começou a ser selecionada no Sul de Minas com mais critério (em
especial o que se refere ao “equilibrio”) entre o final do século IXX e
inicio do século XX. Esta modalidade de marcha era o andamento
predominante nos criatórios localizados na proximidade do Rio das
Mortes, onde a atividade econômica predominante era a mineração. A
exigencia não era, prioritariamente, de animais velozes e ageis, como
era o foco da seleção para animais esportistas (de caçadas dos veados
campeiros). Nos criatórios localizados em regiões de mineração bastavam
aos cavalos de marcha picada a comodidade em andamentos de baixa a
media velocidade.
Todavia, o
andamento preferencial da região do Sul de Minas foi, e ainda é, a
marcha batida. De fato, não há registros históricos de reprodutores
notáveis do passado citados como sendo cavalos de marcha picada.
Mesmo na
atualidade, poucos são os criatórios sul mineiros que se dedicam à
seleção prioritaria da marcha picada, o que é mais uma comprovação de
que a tradição sul mineira foi a seleção da marcha batida.
As próprias
linhagens pilares consolidadas no Sul de Minas, como também as linhagens
antigas sediadas no Sul de Minas, não estabeleceram como meta de
seleção a marcha picada.
A única
linhagem antiga que priorizou a seleção da marcha picada foi a “Passa
Tempo”, que teve como sede a Fazenda Campo Grande, localizada na
região mineira dos Campos das Vertentes. A seleção de marcha picada
nesta linhagem teve inicio na segunda metade do século 19, atraves do
Cel. Francisco Teodoro de Andrade, que era amigo particular do “Barão
de Alfenas” (precursor da raça Mangalarga Marchador)
Na linhagem
antiga sufixo “Herdade”, de localização próxima à serra da mantiqueira,
tambem consolidada fora da região do Sul de Minas, foi produzido um
maior numero de animais de marcha picada. Mas este andamento não foi
meta de seleção da linhagem Herdade, mas sim a marcha batida classica.
A explicação é que o andamento da “tropa Herdade” era mais marchado,
ou seja, apresentava um grau de dissociação maior, relativamente à
media de andamento das linhagens pilares. O grau maior de dissociação
na genetica dos sementais da linhagem Herdade resultava em uma variação
desejavel na produção das modalidades de andamento – marcha batida
classica, marcha de centro e marcha picada. Estas são as tres
modalidades autenticas da marcha triplice apoiada.
As marchas
transicionais, como a batida diagonalizada e marcha trotada, não podem
ser classificadas como marchas triplice apoiadas, mas sim de apoio
duplo diagonal predominante, ou exclusive, o que jamais foi meta de
seleção dos antigos criadores sul mineiros da primeira metade do século
20, tanto os que fundaram a ABCCMM como os que se afiliaram naquela
época. Assim o fizeram, por não concordarem, exatamente, com o
sincronismo duplo diagonal do andamento dos animais da raça
Mangalarga, registrados na Associação Brasileira dos Criadores do
Cavalo Mangalarga (Mangalarga “Paulista”).
Interessante é
que, atualmente, a marcha picada é um andamento mais prevalente na
região do nordeste, principalmente na Bahia e Pernambuco. Prova
incontestavel é a estatistica dos resultados de julgamentos de animais
de marcha picada nas exposições nacionais. Mesmo fora do circuito das
exposições oficiais da raça no nordeste, o que se nota nos concursos
regionais de marcha, e nas cavalgadas, é um numero significativo de
animais de marcha picada. Esa contastação tambem é valido para as
regiões interioranas, particularmente as do sudeste e centro-oeste.
A marcha
batida diagonalizada, e marcha trotada, prevalentes nos julgamentos nas
exposições oficiais da ABCCMM é andamento restrito a um nicho menor de
mercado, o de expositores. Todavia, o nicho bem maior de mercado é o
dos usuarios de cavalos de passeios e cavalgadas.
A marcha
picada é um produto de exportação, sendo o tipo de marcha de maior
demanda na America do Sul, considerarando os rebanhos de Paso Fino e
Paso Peruano nos demais paises; na América Central; na América do Norte
e em alguns paises da Europa, principalmente a Alemanha.
No mundo há apenas tres raças de marcha batida e mais de dez raças de marcha picada.
O fato é que a
marcha picada conquista a preferência pela elegância do alçar dos
membros anteriores, razão do nome “marcha picada”; pela agradavel e
inconfundivel melodia do som das batidas dos cascos – taca, taca, taca,
taca, …… ; e pela comodidade inigualavel, garantindo a satisfação
plena no lazer de passeios e cavalgadas;
Autor:
Lúcio Sérgio de Andrade, escritor, pesquisador, mais de 30 livros
escritos, mais de 50 dvds produzidos, arbitro internacional de equideos
marchadores.
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