O SEU CAVALO BATE CASTANHOLA?
Cavalgando
pela estrada ou observando um concurso de marcha você escuta o seu
cavalo bater a ferradura do posterior no casco anterior? Na linguagem do
interior, ele está batendo castanhola.
E vamos ver como acontece isto.
Quando o casco deixa o chão e
inicia o seu vôo, dependendo do seu ângulo e do alinhamento do eixo
digital (eixo ântero-posterior), o deslocamento do locomotor ou passada
pode acontecer de três maneiras básicas.
No primeiro caso (Fig. 1A),
com o casco aparado naturalmente, quando os ossos digitais estão
alinhados e o animal está na sua condição anatômica ideal, o vôo do
casco acontece segundo um semicírculo, com o centro abaixo do plano do
solo. É como andar de bicicleta, onde o pé voa elegantemente seguindo
sempre a mesma trajetória. O auge do vôo ou ponto mais alto se dá
exatamente em frente ao locomotor contrário que se encontra, em baixo,
apoiado.
Nesta condição o cavalo anda com elegância, avante e com o seu rendimento máximo. |
No segundo
caso (Fig. 1B), quando o eixo digital é quebrado para baixo, indicando
um casco com ângulo menor do que a paleta (achinelado), o tendão
flexor profundo está mais esticado do que o normal e o casco voa para
cima, quando o animal retira o casco do chão, no início do vôo. Neste
caso, dizemos que o animal alça o casco ou harpeja. O andamento fica
deselegante, como se estivesse batendo tambor e o rendimento fica
prejudicado em função do alçamento.
No terceiro caso (Fig. 1.C), quando o
casco é mais fincado (ângulo do digital maior do que a paleta), o
eixo digital é quebrado para cima e o tendão extensor, na parte
anterior do locomotor, está tensionado além do normal.
Quando o animal retira o casco do chão, esse tendão tende a aliviar o esforço sobre ele; e adianta o ponto máximo da trajetória (vôo do casco). Neste caso, o animal tem andamento rasteiro e chuta a grama ou o chão com a ponta do casco. Este andamento é muito comum nos posteriores dos muares.
Desta forma, vemos uma grande
quantidade de cavalos e mulas que apresentam o problema de sobre
alcance ou que batem castanhola quando andam, ou seja, o casco
posterior alcança o anterior antes que este saia do chão, no início da
passada.
Isto acontece quando o casco posterior, fincado, avança em vôo baixo para a frente (adianta a sua trajetória) e o casco anterior, achinelado, demora para sair do chão (atrasa a sua trajetória) devido a problemas de aparação incorreta.
Da mesma forma, podemos
corrigir o problema com a aparação consciente dos cascos, respeitando a
condição anatômica ideal do cavalo ou muar. A correção é feita,
inicialmente, aumentando o ângulo do casco anterior e verificando com o
gabarito de casco o ângulo ideal, que deve ser igual ao da paleta,
após a aparação.
O mesmo deve ser feito no
casco posterior, diminuindo o ângulo do casco, verificando com o
gabarito de casco o ângulo ideal, para ficar igual ou maior do que o
ângulo da paleta, após a aparação; e, se necessário, dando um pequeno
rolamento de pinça nos posteriores.
Assim, a aparação consciente
dos cascos evita muitos problemas de locomoção dos cavalos atletas, que
podem, ainda, resultar em afecções do sistema locomotor.
A. P Toledo – –
Engenheiro, Vet. Assistant e Farrier (USA), criador de equinos e
autor dos livros: Mecânica de Sustentação e Locomoção dos Eqüinos e A
Locomoção dos Eqüídeos.
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