Seca continua a castigar a população do Nordeste

 

Leonardo Lucena_PE247 -  “Por trás do que lembro, ouvi de uma terra desertada, vaziada, não vazia, mais que seca, calcinada. De onde tudo fugia, onde só pedra é que ficava”. Os versos do ilustre poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto (1920-99) retratam fielmente o cenário pelo qual a Região Nordeste passa atualmente. Por toda parte é possível encontrar o gado morrendo, gente que padece pela falta de água e comida e até mesmo pessoas que se valem de cães farejadores para encontrar animais silvestres que possam servir de alimento. Em todo o Nordeste, cerca de 12 milhões de pessoas sofrem com os efeitos da estiagem. Somente em Pernambuco, 128 dos 184 municípios decretaram estado de emergência. Os pequenos e médios agricultores do Sertão e do Agreste registraram um prejuízo de R$ 500 milhões apenas no primeiro semestre por conta de problemas relacionados com a seca. Com isso, a Associação dos Fornecedores de Cana de Pernambuco (AFPE), solicitou, nesta quarta-feira (12), ao Governo do Estado para que seja decretado o estado de emergência.
De acordo com o Instituto Nacional do Semiárido (Insa), vinculado ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), cerca de 1,5 mil municípios foram afetados pela estiagem. E as perspectivas são desanimadoras. Não há previsão de melhorias em relação às chuvas a curto prazo para amenizar os efeitos da maior estiagem dos últimos 50 anos da história do Nordeste.
A situação é crítica. Os estados do Ceará (174 das 184 cidades estão em emergência) e da Paraíba (170 das 223) já declaram estado de calamidade. Em Pernambuco, dos 184 municípios, 128 decretaram estado de emergência e 117 deles tiveram sua situação reconhecida pela Defesa Civil nacional. Cerca de 1 milhão de pessoas sofrem os efeitos da estiagem. No primeiro semestre, o governo liberou 846 carros-pipa para abastecer as áreas afetadas.. Agora, este número chega a 1.500.
Diante das circunstâncias cada vez mais alarmantes, os afetados pela seca resolveram radicalizar nas reivindicações solicitando maior agilidade nas ações de combate à seca. Nesta terça-feira (12),cerca de mil pessoas, entre criadores, agricultores e moradores, fizeram um protesto no município de Águas Belas, no Agreste, e interditaram um trecho da BR-423. Carcaças de animais que morreram de fome e sede foram colocadas na rodovia, além de queimarem pneus para chamar a atenção para o problema. Este foi o segundo protesto do gênero em apenas uma semana. O primeiro ocorreu nas regiões do Araripe e de Ouricuri, no Sertão, com a participação de mil trabalhadores rurais.
Os prejuízos são imensos. Somente em Pernambuco o rebanho bovino encolheu em cerca de 550 mil cabeças. Desse total, 250 mil morreram por falta de água e comida e os demais 300 mil animais foram transportados para outros estados. O rebanho conta hoje com 1,95 milhão animais.
Na Zona da Mata, região que concentra a produção de cana de açúcar estadual, os problemas demoraram um pouco mais para chegar...mas chegaram. Em agosto, o Sindicato das Indústrias do Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar-PE) estimava uma produção de 17, 4 milhões de toneladas da planta para a safra 2012/2013 (setembro/março), uma redução de 25% em relação à safra anterior. Em outubro, a previsão foi revista e caiu para 14,5 milhões. Os último dados, porém, apontam para uma produção de 13,7 milhões de toneladas de canas.
Até o momento, o Governo do Estado já investiu R$ 160 milhões em medidas emergenciais e estruturadoras para o enfrentamento da seca. E a expectativa é que o valor total chegue a R$ 514 milhões.
Essa medida soma-se a várias outras já tomadas pelo Governo do Estado, que anunciou, neste mês, a compra do litro de leite por R$ 1,00 ao invés de R$ 0,76, como forma de gerar renda nas áreas afetadas. Também estão sendo adquiridas 120 mil toneladas de canas e sendo implantados 126 hectares de palma-forrageira destinados à alimentação animal. Além disso, serão investidos mais R$ 15 milhões para ajudar os pecuaristas, que servirá para várias outras soluções, entre elas a implantação de 100 dessalinizadores, sal, construção de 400 barragens, beneficiando 69 mil famílias, e a perfuração de 1,2 mil poços.
Outras ações envolvem a aração de 43 mil hectares de terras visando à fertilização do solo, subsídio para a aquisição de milho destinado a alimentação do gado e a implantação de 36 mil cisternas. O Governo do Estado também instituiu o Comitê Integrado de Combate à Estiagem com a função de coordenar e fiscalizar as ações de enfrentamento à seca.
Por sua vez, o Governo Federal anunciou a liberação de mais R$ 400 milhões que serão repassados pelo Banco do Nordeste (BNB). A instituição ficou com a responsabilidade de liberar R$ 1 bilhão para socorrer os municípios afetados pela estiagem em todo o Nordeste, com juros anuais entre 1% e 3,5%. Os recursos são voltados prioritariamente para os pequenos e médios produtores, que são os mais duramente afetados pela seca.
Agora, resta saber se as medidas serão suficientes para atenuar a situação dos afetados pela seca até que cheguem as chuvas, o que segundo a meteorologia, ainda deve demorar a acontecer.